segunda-feira, 22 de setembro de 2008

no Cerilo

É legítimo que o meu TCC fale de minhas permissões? Daquilo que me permito porque no mais íntimo é o que de fato preciso?
Certo dia sentei num restaurante para estudar, para algo fazer com um texto denso de Csordas, em inglês, que há dias já andava engasgado pelo medo meu de alguma indigestão. Tirei o texto e pus sobre a mesa, mas o que acabou por me chamar mais a atenção foi Peter Brook. Ali, com A Porta Aberta, ele piscava pra mim. Tudo o que eu tenho procurado por aí são portas abertas e eis que abrindo o livro me surge o primeiro capítulo: As artimanhas do tédio.
Passei por um final de semana completamente eufórico. Alertaram-me por aí que eu não levasse tão a sério as convicções da euforia, embora elas me parecessem muito sensatas. É preguiça precisar assumir um novo jeito de produzir conhecimento? Essa questão tem soltado alguns monstros no sótão. Sim, a obra mostra seus próprios caminhos, mas me pergunto o quanto esses caminhos não são sobretudo o fruto de nossas doenças. Tudo, no entanto, pode acabar sendo fruto de nossas doenças, e já é sabido que chamar de doença ou de necessidade e genialidade alguma coisa depende do quanto isso se torna útil para o mundo além de mim. O quanto, por exemplo, é útil para a banca, para quem lê... Seguir esses caminhos abertos e tão meus é sucumbir às minhas doenças?
Ok, explico! Os coelhinhos, por exemplo. Os coelhinhos se mostraram no final das contas como algo lindo e totalmente sincero, mas não se pode negar que o processo tomou os caminhos que tomou em função das mil dificuldades que acabaram se mostrando e que optamos em não tentar enfrentar, também porque simplesmente NÃO CONSEGUIMOS ENFRENTAR. Essa opção a princípio não foi consciente, ou seja, não foi uma opção, foi uma circunstância que acabou prevalecendo sobre nossas vontades. Conseguimos perceber a certa altura como essas dificuldades acabavam trazendo novos caminhos e possibilitando a percepção para outras vontades e soluções poéticas. Fazer as pazes com nosso processo de criação foi crucial a partir de certo momento. E não foi uma derrota, mas aceitar que não seria possível encarar os caminhos que a tradição impunha. Fica então no ar a pergunta, essas dificuldades são fraquezas ou são a força de algo em nós que a princípio desconhecemos?
Eu aqui, agora, recorro a uma outra intenção para a obra, porque uma mais acadêmica e tradicional não vem podendo ser feita. Sou genial ou sou doente? Preciso enfrentar essas loucuras? Enfrentar no sentido de combatê-las? Preciso me tratar para me adequar ou posso fazer de tudo isso o meu jeito de ser no mundo. O quanto assumir sua loucuras e esquisitices como processo artístico legítimo não leva a tal máxima, qual seja, que o ser estravaza suas neuroses através da arte. Eis o sentido do enfrentamento como cumplicidade no jogo e não mais como combate. Bem, isso não é nada novo o que estou dizendo... mas tem um sabor especial finalmente sentir isso na pele.
Dizem que preciso fazer as pazes comigo para poder produzir. Mas eu levemente suspeito que o meu modo de fazer as pazes é me chamando pra briga. Me enfrentando, lá na rua mais imunda e mijada dos arredores.

Num final de semana extremamente eufórico, quase que assustadoramente, percebi que um caminho poderia ser começar a dançar. No entanto, alguns detalhes esquisitos em mim insistiam em chamar-me a atenção e a assoprar-me ao ouvido que eu estaria ficando doida. Que toda a euforia mais divertida e explosiva que parecesse não era eu. Abstinência dos remédios que há uma semana não tomava? Ao invés de julgar, decidi a partir disso produzir, ou seja, estabelecer a tal relação contemplativa 'te curte' positivante comigo.

Não posso negar que espero a aprovação da banca, mas que por isso faço o maior esforço pra mandar todos à merda. A banca e todos os outros que corporificam o meu kit saco de ossos: medo, culpa e vergonha! Aqueles que de alguma forma me impedem de realizar o que preciso.

Puta que o pariu! Dá pra dizer nome feito em TCC? Como se faz isso academicamente? De quem são os créditos por essa citação? Domínio popular, imagino, que nem letra por bulería.

Eu juro que adoraria fazer fazer essa pesquisa das sensações corpóreas e do movimento dos órgãos e com isso bailar. Mas a imaginação sempre nos leva a lugares tão lindos e coerentes e sob controle. É tão mais difícil a execução, o passo - quando este quer se aproximar do arquitetato. Quem é que um dia disse que precisamos de bons projetos? Eles só tem me atrapalhado, me feito sofrer. Mas eu sei que eu preciso entender o papel, a força e o desafio de uma proposta que não arreda o pé, para me chacoalhar e fazer rolar de mim o inusitado. Este blabla todo não deixa de ser o que agora rola. Também não dá pra ficar a mercê (ai, escreve como?) do que é pacífico, do que vem e vai sorrindo. Eu preciso aprender a lutar comigo mesma e não morrer.
As mortes são internas. No mundo eu só preciso aprender a jogar. Que aí a morte um dia vem e me cai bem.
Eu queria ter estudado Csordas, mas a minha doença me fez escrever - de repente a minha maior virtude. Eis o jogo. E dança é jogo, como já diria a minha cara orientadora. De repente convido Csordas para dançar. Brincar de bate e volta. Ele me lança uma frase e eu lhe lanço outra. Sem grandes responsabilidades por um tentar compreender o outro, pelas apropriações.
Que medo de não ter palavras pra falar do que se passa. Como eu digo ao mundo o quanto tudo isso é especial pra mim? Dançando?

Para falar para a academia o que aconteceu em mim durante esse um semestre, de como aprendi a ver a arte, a minha arte e como preparo o terreno para tornar isso que eu sou além de carne e osso? Como eu faço isso ser arte?

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