quinta-feira, 25 de setembro de 2008

as coceiras

Por mais que falasse de uma intenção em relação as minhas sensações corpóreas, a idéia que tinha do que seriam essas sensações revelava-se de forma um tanto obscura. Tentadora para identificar, mas ainda distante de alguma compreensão. Agora, depois de me dar conta do corpo como um lugar de lugares de criação de movimento, me dei conta que a sensação corpórea pode ser encarada como uma cosquinha, como se algum espaço vazio dentro de mim vibrasse, por uma maior concentração de energia. As sensações não são necessariamente associadas a sentimentos que podem ser nomeados, elas são sentidas em forma de comichão, de algo que vibra, de algo q se mexe e que precisa ir e vir. Agora tudo ficou mais claro, identifico rapidamente tantas sensações corpóreas já experimentas e que me fizeram mover daquele jeito 'nao sei porque estou me movendo, mas to precisando'. O comicho no peito, o comicho nas mãos, nos ombros, nos pés, no quadril, na coluna toda... uma cosquinha que não cessa nunca e que, bem pelo contrário, só provoca mais coceiras. Foi fundamental acessar na minha memória a experiência com Susana França, durante a apresentação de O Jardim, em agosto no Museu do Trabalho. Nosso figurino foi feito com uma segunda pele cheia de folhas dispostas entre esta e a própria pele. Enquanto eu me movia, algumas folhas caiam. Mais tarde ouvi o comentário de uma pessoa que estava na platéia, não muito familiarizada com dança - mas são justamente essas pessoas que as vezes fazem os melhores comentários - que parecia que eu me movia pra tirar as folhas de mim, pois elas estariam me causando coceiras. Mover-me era uma maneira de aliviar a coceira e ainda tirar aquelas coisas coçantes de mim. Comentário fofo e poético! Mais uma metáfora para a minha coleção.

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