quarta-feira, 17 de setembro de 2008

na noite

Dormi a tarde toda, das 13h30 até exatamente 20h30. Recuperei-me plenamente de uma noite em claro, muito divertida sim, mas que guarda esse estranho conflito com o que entendemos ser uma gente de bem. Pergunto-me que espaço existe pra isso no período de elaboração de TCC, cuja disciplina e horas de estudo e pesquisa corporal estavam no cerne de meu imaginário a respeito do que seria fazer um TCC, há uns poucos meses atrás. De que maneira posso dizer que assistir a um show da Pata de Elefante no Bar Opinião, bebendo muita cerveja e respirando gente, faz parte do meu processo de pesquisa corporal?
Cabe aqui colocar a questão, por que afinal um TCC? De que forma creio poder produzir conhecimento? O que é o conhecimento? Conhecer a mim importa também ao mundo? Credo, são tantas perguntas que é difícil colocar algum pensamento em palavras. Existe alguma pertinência em relatar com toda a honestidade possível como são os meus dias e como eu lido comigo mesma, com o corpitcho, dia após dia? Considerando inclusive a mentira como parte do ser honesta... Considerando a preguiça, a dor, o boicote, os prazeres carnais mais íntimos. Se afirmei há uma semana atrás que queria dançar com honestidade, acho que faz muito sentido ser exageradamente honesta no processo todo, incluindo a elaboração do trabalho escrito. Porque a parte escrita não é explicação do que faz o meu corpo em cena, ele é um processo em si. Um diálogo com as minhas mentiras para encontrar a honestidade. Para ser honesta, é preciso saber por que eu minto. Para seguir ou controlar determinados impulsos, preciso conhecer o seu descontrole e seus bloqueios.
Aprecio agora os rumos que tomam o meu trabalho. De uma pesquisa sobre a movimentação dos meus órgãos e das minhas sensações frente aos estímulos do flamenco, vejo como, para não mentir, não posso me prender a ela. A minha pesquisa de hoje dialoga com essa, mas trata muito mais de mim, não do que está fora propriamente. Trata do meu diálogo com o que está fora e que quer ser ou precisa ser apropriado. Enfim, chego à máxima que diz que a pesquisa mostra seus próprios caminhos e, não só enxergar isso, mas também ser extremamente fiel a isso, requer a clareza na questão honestidade/mentira.
Como Jana colocou na nossa ultima orientação em grupo, pra ela fazer o TCC é nada mais que conhecer e afirmar seu próprio modo de estabelecer conhecimento. Essa frase foi o que pude trazer de mais valioso daquele encontro e que me faz agora repensar todos os por quês da minha pesquisa.
Como cada experiência pode ser rica, tem sido a provocação da minha orientadora para o processo de todas nós, cujos trabalhos tem se configurado de modo colaborativo a la vomitar coelhinhos. No meu trabalho estão Sully, Jana, Paty e Déia, e claro que Tati, e eu estou nos seus, até porque Tati também elabora a sua dissertação de mestrado. Por que falar em trabalhos individuais? Só porque cada uma vomita coelhinhos mesmo, e assim dá cria ao que é do grande grupo.
Agora meus pulmões fumam um charuto de licor, enquanto meu estômago digere duas porções pequenas de grão de bico e um bocado de abacate com aveia e açúcar, mais alguns vermes ácidos que comprei no supermercado para garantir a dose diária de corantes. O charuto trouxe ao meu quarto o meu irmão, o meu querido irmão, o maior, porém não o mais velho. Eu adoro o meu irmão, mas temos uma dificuldade enorme para conversar, acho que até por nos adorarmos tanto. Perguntou, finalmente, se a Luiza se mudaria daqui por ele estar volta e meia pelo apartamento. E acabamos conversando sobre nossos planos em relação a um apartamento de patrimônio paterno que pode ser ocupado pelos que tem direito. Será agora a hora de estabelecer uma prática docente para o corpo no quarto que vaga, como possibilidade de estudo e retorno financeiro que urge? Seria interessante fazer isso ainda para constar no meu TCC.

Estava agora relendo algumas anotações de aulas de flamenco e encontrei uma pergunta que coubera a mim: Por que quero bailar flamenco?

Preciso falar de um novo projeto com a Iandra. Venci finalmente os bloqueios, monstros da vaidade e da insegurança, e pude começar a trabalhar com ela. Todos os projetos se encontram, porque tudo isso sou eu. E eu sou o tema dessa monografia. Ok, o projeto... iniciamos ensaiando o seu Jaleos para uma apresentação que de repente se tornou fantasma. Como não temos nenhum comparsa guitarrista, ao menos não nesse continente, acompanho-a no cajón. Desses ensaios cresceu a vontade e revelou-se a afinidade de trabalho. Agora queremos continuar, e claro, pra por coisas na roda e ganhar dinheiro com dança. Adoramos o rock’n’roll e não temos guitarrista: vou chamar o Leandro para trabalhar com a gente e simplesmente experimentar coisas... sabe se lá onde tudo isso vai dar. E queremos parar de dançar pra madame, vamos criar um espetáculo para o Garagem Hermética, para cafés e bares, ou ainda para abrir shows de rock ou blues e outras coisas, como a Pata de Elefante, por exemplo. Uhuu, olhas as tietes se manifestando!!! E foi exatamente nesse show que fui ontem, onde, bêbada e soltinha e empolgada, ficava o tempo todo criando sapateios na batida da música. Tudo fazia muito sentido. Dialogar com a guitarra, com baixo, com a bateria, com os meus pés. Eu não sei se é a lua, mas estou num surto eufórico e com vontade de criar muito e com muitas pessoas, de fazer saraus e encontros, pra deixar rolar coisas, muitas coisas. Lembrei agora do projeto da Jam Session Flamenca, cuja concepção certamente teve muitos dedos do Cláudio. Isso que eu to querendo é que era pra rolar lá, não aquelas flamencas de decote e calça jeans, achando que criavam e quebravam com alguma coisa. Cara, que desconforto em lembrar daquilo. E como fazer isso sem ter que ficar provando coisas ao outros, desmanchando um pouco a crítica própria e alheia, permitindo coisas rolarem com honestidade. Ta aí de novo a honestidade!

Vou chamar a Tati para ler o que publico no blablablog. Acho que pode ser um ótimo canal para nos comunicarmos e eu mostrar pra ela o que tenho produzido e pensado e etc etc. Ela pode inclusive comentar...tchanan, a tecnologia é o máximo, e eu estou me sentindo o máximo sem a depressão!!! Aliás, por falar em Tati, hoje a tarde tínhamos encontro em grupo e depois aula de Teoria. Fiquei em casa dormindo, me recuperando da noitada e querendo escrever, como agora estou fazendo. Não sei como isso pode parecer para quem tá de fora e para quem espera que eu vá, mas acho que fiz a escolha correta. Como podemos ser honestos e ainda assim viver em sociedade? Que atenção eu dou para o meu ritmo próprio e o assumo assim, com suas necessidades e desafios. Como lutar pelo que eu acredito por ele?

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