quarta-feira, 17 de junho de 2009

3Mares

o viajante desconhece seu percurso até este se tornar história.
a história parece não fazer sentido até se tornar poesia.

passarinho verde

Quando não sou monstro, sou passarinho verde.
Quando não crio espaços em mim para mover o que está fora, observo aquilo que independe do que faço; e que, corporificado, interrompe a inércia de meus trajetos.

sábado, 21 de março de 2009

um respiro...

Confusa e ansiosa demais. Um desespero em função disso tudo. Em seguida vem a tristeza.
Mas feliz porque agora eu ajo por mim. Comparações já não são mais recorrentes. Há uma clareza de que a vida é minha e que tem necessidades e desejos próprios. Descubro o que é admirar pessoas, amigos... e nomeá-los como exemplos, não mais como boicotes e fuga de mim mesma.
Realmente feliz por isso!

sexta-feira, 20 de março de 2009

surto nºI

Durante um tempo achei que este blablablog já não fosse mais útil. Por vezes pensei até em deletá-lo... no entanto, o processo eclodido com os primeiros passos do monstro me mostra agora o porque de eles percorrerem caminhos, os caminhos deste monstro. O processo continua. Jamais ousei dizer que eles terminariam com a entrega de meu trabalho de conclusão, mas só agora que essa constatação fez sentido de novo. Melhor lugar para relatar esses desdobramentos do que o blablablog não haveria.

Não posso permitir que minha arte se entregue àquilo que eu abomino no mundo. Que tudo que eu busque e afirme caia no vazio.

Nos últimos dias eu adoeci. Adoeci porque minha arte adoecia. Algo não andava bem, e isso porque minha arte andava por um caminho equivocado. Insultei pessoas, tomei atitudes severas com outras. Atitudes que até fazem sentido dentro de uma certa lógica, mas segundo a qual não quero mais jogar, ou não mais obrigar a minha arte a jogar. Acredito sim que a arte seja resistência, ela não é negócio, ao menos não essa arte política e de coração a qual eu me proponho.
Eu posso dançar para ganhar dinheiro, mas não posso deixar que minha dança, minha arte, virem um negócio, uma mercadoria. Não quero dar uma aula que precise seduzir o aluno a não me trocar pela concorrência. Sim, a concorrência vira uma questão uma vez que a aula tem como fim suprir os desejos imediatistas de um público seleto e se torna um meio de sustento no sistema. A arte passa a reproduzir o que ela mesma discursa contra.

Como será minha vida se eu evitar o consumo? Se eu consumir sorrisos e abraços, ao invés de doces e bebidas. Cultivar a beleza no que vejo ao invés do meu próprio visual. Contar mais com os favores ao invés de pagar por tudo o que preciso. Fazer mais favores ao invés de cobrar por tudo o que ofereço. É preciso ressignificar toda uma vida para que a arte volte a fazer sentido. Viver de migalhas?
Se eu sou contra o sistema, o que faço para sobreviver nele? Quanto dinheiro eu de fato preciso para isso e assim poder afirmar minha arte como instrumento de resistência e luta pelo que há de mais poético no ser humano.

domingo, 2 de novembro de 2008

A dor se manifesta nas faltas. As faltas denunciam minhas sequelas.
A cada fisgada faço a força para me convencer que jamais devo esperar pelos outros. Que o tempo corre aqui comigo. A falta que de repente alguém faz me assusta, que só faz falta porque de repente falta. Merda de criatura...

domingo, 12 de outubro de 2008

coelhos meus, coelhos teus

Abandonei por um tempo o blablablog como pinico de minhas angústias. De repente eu fiquei tímida, por tanto ter me exposto... um pouco ridícula, por tanto nome que falei, por tanta pergunta retórica que lancei. Mas esse não deixou de ser um período de muita escrita, que agora toma corpo pelas tais formalidades acadêmicas. Tenho duas semanas para concluir o meu trabalho e venho quebrando a cabeça para organizar tantos coelhos, saltitantes e enlouquecidos.
Mas entrei esses dias no blog da Luini, que, inspirada no meu, decidiu nele também cuspir todos os escárnios para a composição de uma obra. Fiquei tão feliz. São coelhinhos meus alimentando coelhinhos seus. E não só isso. Pelo pouco que conversamos, existe um sutil propósito em comum, uma direta identificação com muitos de seus conflitos, e de como esses conflitos se diluem em obra nessa saga pela honestidade, pela autonomia.
Um beijo, Luini! é muito bom estar compartilhando coisas tão preciosas contigo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

a obra surgindo

O passo seguinte, que já urgia, era convocar os meus parceiros. E dado esse passo, de repente todo o meu trabalho ganhou sentido. Não importa quem estiver lá no dia em que minha obra se tornar pública, importa é que todos dialoguem de alguma forma com o flamenco e que estarão todos juntos por algum momento, atentos aos seus coelhos e aos coelhos dos outros; aos coelhos do grupo, ainda desconhecidos ou nem nascidos. Até o dia 10 de outubro, estavam interessados pela coelhada Giovani, Iandra Cattani e Ana Medeiros; estas duas últimas a princípio vomitando como palmaoras. Havia a previsão de fazer a mesma proposta ainda a Thaís Alves, cantaora, clareando-se com isso a possibilidade de um grupo que pode sofrer alterações em sua composição até o dia da defesa. A minha obra acontece seja com as pessoas supracitadas ou mesmo com outras que podem vir a aparecer, porque ela não depende de pessoas em específico, ela depende simplesmente de pessoas. Como defende a própria Lygia Clark, a obra não depende do objeto em si, mas no modo como ela afeta e interfere no que lhe cerca; e sendo cada pessoa capaz de vomitar coelhos, sem nem mesmo perceber, cada pessoa é bem-vinda. Optei por chamar pessoas do flamenco porque é com o flamenco a minha ânsia por dialogar. É dentro do flamenco que moram muitos dos meus monstros e é também no flamenco que me faço monstro. Esse monstro cujas formas e organizações fisiológicas vão além do humano, além de suas funções orgânicas, além do que me diz a biologia. É aqui que então meus órgãos não exercem só as funções que sempre me foram colocadas como próprias do funcionamento de um ser humano, aqui é que elas viram metáfora, poesia e assim dança.
Espero que possa constar nos meus escritos algum relato de primeiras experiências com meus parceiros de vômito flamenco. Se não der, paciência. A obra se faz conforme as condições. Vomito aqui o que foi pertinente e possível de acordo com as condições de temperatura e pressão externas. Toda a galera do flamenco anda em alvoroço nesse mês de outubro, inclusive eu. Registro aqui, portanto, que não se configura com um erro de conduta investigativa que de repente nos encontremos pela primeira vez, todos juntos, em cima do palco no dia de minha defesa. Porque cada um vomita aquilo que quer e pode e deve. Aqui não existe ansiedade, incapacidade, insegurança. Aqui cada um é bem vindo à maneira que já é, e isso não significa virar as costas para o desafio, mas assumir como desafio o próprio assumir-se como artista, como constante local de criação. E aqui o Manifesto do Não ganha sentido: certamente não falo do artista a la coelhinhos como local de criação virtuosística, mas sim sensível e sincera. Humana. Monstra!