domingo, 12 de outubro de 2008

coelhos meus, coelhos teus

Abandonei por um tempo o blablablog como pinico de minhas angústias. De repente eu fiquei tímida, por tanto ter me exposto... um pouco ridícula, por tanto nome que falei, por tanta pergunta retórica que lancei. Mas esse não deixou de ser um período de muita escrita, que agora toma corpo pelas tais formalidades acadêmicas. Tenho duas semanas para concluir o meu trabalho e venho quebrando a cabeça para organizar tantos coelhos, saltitantes e enlouquecidos.
Mas entrei esses dias no blog da Luini, que, inspirada no meu, decidiu nele também cuspir todos os escárnios para a composição de uma obra. Fiquei tão feliz. São coelhinhos meus alimentando coelhinhos seus. E não só isso. Pelo pouco que conversamos, existe um sutil propósito em comum, uma direta identificação com muitos de seus conflitos, e de como esses conflitos se diluem em obra nessa saga pela honestidade, pela autonomia.
Um beijo, Luini! é muito bom estar compartilhando coisas tão preciosas contigo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

a obra surgindo

O passo seguinte, que já urgia, era convocar os meus parceiros. E dado esse passo, de repente todo o meu trabalho ganhou sentido. Não importa quem estiver lá no dia em que minha obra se tornar pública, importa é que todos dialoguem de alguma forma com o flamenco e que estarão todos juntos por algum momento, atentos aos seus coelhos e aos coelhos dos outros; aos coelhos do grupo, ainda desconhecidos ou nem nascidos. Até o dia 10 de outubro, estavam interessados pela coelhada Giovani, Iandra Cattani e Ana Medeiros; estas duas últimas a princípio vomitando como palmaoras. Havia a previsão de fazer a mesma proposta ainda a Thaís Alves, cantaora, clareando-se com isso a possibilidade de um grupo que pode sofrer alterações em sua composição até o dia da defesa. A minha obra acontece seja com as pessoas supracitadas ou mesmo com outras que podem vir a aparecer, porque ela não depende de pessoas em específico, ela depende simplesmente de pessoas. Como defende a própria Lygia Clark, a obra não depende do objeto em si, mas no modo como ela afeta e interfere no que lhe cerca; e sendo cada pessoa capaz de vomitar coelhos, sem nem mesmo perceber, cada pessoa é bem-vinda. Optei por chamar pessoas do flamenco porque é com o flamenco a minha ânsia por dialogar. É dentro do flamenco que moram muitos dos meus monstros e é também no flamenco que me faço monstro. Esse monstro cujas formas e organizações fisiológicas vão além do humano, além de suas funções orgânicas, além do que me diz a biologia. É aqui que então meus órgãos não exercem só as funções que sempre me foram colocadas como próprias do funcionamento de um ser humano, aqui é que elas viram metáfora, poesia e assim dança.
Espero que possa constar nos meus escritos algum relato de primeiras experiências com meus parceiros de vômito flamenco. Se não der, paciência. A obra se faz conforme as condições. Vomito aqui o que foi pertinente e possível de acordo com as condições de temperatura e pressão externas. Toda a galera do flamenco anda em alvoroço nesse mês de outubro, inclusive eu. Registro aqui, portanto, que não se configura com um erro de conduta investigativa que de repente nos encontremos pela primeira vez, todos juntos, em cima do palco no dia de minha defesa. Porque cada um vomita aquilo que quer e pode e deve. Aqui não existe ansiedade, incapacidade, insegurança. Aqui cada um é bem vindo à maneira que já é, e isso não significa virar as costas para o desafio, mas assumir como desafio o próprio assumir-se como artista, como constante local de criação. E aqui o Manifesto do Não ganha sentido: certamente não falo do artista a la coelhinhos como local de criação virtuosística, mas sim sensível e sincera. Humana. Monstra!